terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Carta de Adeus

Sonhei um dia vê-lo acordar sorrindo, como num dia distante já esquecido na memória, te vi. Gostaria de vê-lo rindo do sol, sem brigas com o despertador. Um dia quero vê-lo feliz!

Sempre me atrapalhei, foram difíceis tempos de mal-entendidos - você saiu ferido em seu coração, eu sei. Minhas tentativas de demonstrar carinho e apoio foram vagas, o trabalho e a preocupação que te deixaram exausto permanentemente por minha causa foram gritantes.

Claro, os tempos foram difíceis e muitas noites, quando você achava que eu dormia e permitia que seus temores tomassem forma eu pensei em te deixar e assim tirar o maior fardo de suas costas... desculpe, fui fraca e egoísta o suficiente para me permitir uma noite a mais e noite após noite eu menti para mim mesma prometendo que seria a última - promessas vagas, como tudo o que fiz.

As noites de tempestade demoraram a passar, mas a bonança veio enfim. Não vou mentir - não agora, quero pela primeira vez lhe falar com toda a minha verdade e franquesa, até porque é a última vez que te falo - a bonança afastou de mim qualquer vontade de ir embora. Tola! Demorei a perceber que eu não só acentuei suas angústias, pior que isso, eu atenuei suas alegrias - e por isso peço desculpas.

Tantas vezes que já perdi a conta desejei morrer para deixar a última lembrança de felicidade viva (mesmo que falsa felicidade), queria para mim a salvação das dozenlas: a morte.

Você me disse vezes sem fim a sua dor, desabafou e pediu; em minha pequena compreensão do mundo escutei tudo calada sem ao menos ouvir. Aos seus rompantes eu chamei "exageiro", "mau gênio" ou "nervosismo", sim, seus momentos felizes, quando você se iludia dando-me o crédito serviram para massagear meu ego e continuar neste "conto de fadas" as avessas.

Sinto por tudo. Hoje posso ver sem as névoas que deturpavam minha visão anos a fio. Tudo resume-se no tic-tac do relógio, é inevitável e já não era sem tempo de você ser livre e feliz, lento tic-tac. Toda a minha felicidade passou rápido, posso dizer que dificuldades também foram milésimos de segundo se comparadas a isto. A verdadeira dor nos atinge no íntimo da alma e como veneno se espalha lenta e certeiramente, amordaçando nossos nervos. Este corpo pesado só temo que lhe é merecido. Há cores que se derramadas podem alterar todas as bases e eu sou esta cor no seu mundo.

Agora que posso visualizar seu futuro de paz, enquanto sigo em uma direção oposta, peço um último perdão: sei que não mereço mas a vida parecer permitir-me a salvação das donzelas - enfim! Quem sabe eu seja mais parecida com Capitu do que com Lucíola, o fim chegou tarde demais para salvar minha alma, mas protegerei se possível o que este fim está salvando da sua.