terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Crônica do mundo moderno




- um carneirinho, dois carneirinhos, três carneirinhos, quatro carneirinhos... quarenta carneirinhos...
hum... bom... meu nome é Mariana. Quer dizer, claro que voce já sabia, mas como eu ainda não havia me apresentado acho que é melhor assim, talvez dê mais liberdade para conversarmos, né?
Hum. É, na verdade os meus pais devem estar querendo umas horas de paz, longe de mim, então aqui estou eu, mas se não for esse o motivo, então eu não sei o porquê de eu ter vindo.
(cinco minutos depois.)
Você é sempre assim calada? Não, porque não sei se você sabe, mas as vezes o silêncio pode ser algo bastante atormentador. As vezes eu prefiro estar no meio de muitas pessoas que falam e gritam tudo ao mesmo tempo do que estar em um lugar com várias pessoas e pairar aquele silêncio de velório, como quando você espera a sua vez na sala de espera do médico e tudo o que se ouve são os tic-tac do relógio na parede e de vez em quando aquela voz nasal de secretária: "Sra. Mariana... sua vez".

Por falar em médico, ontem eu estive visitando uma amiga minha e ela está tentando entrar na faculdade de medicina... Nossa... Você não faz idéia do tanto que ela está estudando... Na verdade se eu não estivesse aqui eu deveria estar estudando, falei para os meus pais, mas você sabe o que eles me disseram?? Que "a única coisa que você sabe fazer Mari é sentar na frente daquele computador e estourar seus ouvidos com aqueles fones em altissimo volume." Imagina, será que eles não sabem que Internet também é uma riquissima fonte de informações? Ah!, meus pais são bolados de mais!

Não. A verdade é que eu ergo o volume do fone no máximo pra tentar não ouvir as ladainhas do meu pai "Senhor sabe-tudo" e o pior é que mesmo assim ele vai lá e fala, fala, como se eu conseguisse ouvir alguma coisa. Você acredita que uma vez ele me perguntou qual time eu gostava, como eu nem assisto futebol eu disse que não gostava de nenhum, claro! Mas, ao invés de ele captar a minha opinião e pronto, o que ele fez? Ele teve que fazer um exaltado discurso, me dizendo o quanto absurdo era isso, que no país do futebol, numa familia inteira de Palmeirenses e blá blá blá. Agora eu te pergunto, se ele queria dizer que eu tenho que torcer para o Palmeiras não precisava ter pedido minha opinião. Mas se o que ele realmente queria era a minha opiniao, ele devia ter ouvido e respeitado, nós não estávamos na final do campeonato!

E então, o que você faria se estivesse no meu lugar? Não adianta discutir, então com o tempo eu percebi que o melhor é nem ouvir, por isso quando estou em casa fico no meu quarto com os fones. O quê? Por acaso eles te disseram que na verdade eu era uma anti-social? Ou que eu não tenho amigos? Que eles estão preocupados por que eu nao tenho perspectiva para o futuro? Bobagem, eles deviam trocar de lugar comigo, na verdade eu tenho milhões de coisas pra fazer e se você vai ficar brincando de "vaca-amarela" acho que é melhor eu ir, até porque já está na minha hora, ok?!
Ah, sabe que na verdade, você é uma boa amiga... Foi divertido ter essa conversa, talvez eu volte mais vezes.

Ao fechar a porta da sala, lia-se: Dra. Silva, Psicóloga.




Creative Commons License
Crônica de um mundo moderno by Lo.Thalyta is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.

Nenhum comentário:

Postar um comentário