domingo, 19 de outubro de 2014

Apontamentos sobre "Introdução à história contemporânea" de Barraclough

BARRACLOUGH, Geoffrey. Introdução à história contemporânea. Tradução de Álvaro Cabral. 1964. Disponível para download.


              [CAP. 1]
              Segundo Barraclough é necessário analisar as mudanças globais além da Europa. Para o autor, a centralização da Europa fez com que uma série de acontecimentos importantes fossem deixados em segundo plano. O Japão, a África e a Ásia representam tão ou maior importância nas mudanças mundiais do meio do século XX.
[CAP. 2]
A segunda Revolução Industrial, a Revolução Científica, modificou todos os ramos de produção, não apenas a indústria, mas também a medicina, a agricultura, a construção civil, os transportes, entre outros. A partir dela o mundo se tornou mais parecido ao que conhecemos.
A descoberta da manipulação de novos minérios, o petróleo, o surgimento dos grandes conglomerados industriais, marcam o início da globalização. “No final do século XIX, a maior parte do mundo estava mais estreitamente interligada, econômica e financeiramente, do que em qualquer outra época anterior” (cap. 2, II).
A era da busca neoimperialista, no fim do século XIX, redesenhou o globo.  A sede de conquista possuía conotações econômicas e políticas e, essa fase, compreende o marco “divisor de águas” entre a história antiga e a contemporânea.
[CAP. 3]
O terceiro capítulo da obra relata a questão demográfica. O imperialismo defendia a “branquiação” do mundo, mas as taxas de natalidade diminuíam na Europa e aumentavam na África, na Ásia e Oceania. Os europeus eram minoria em suas próprias colônias.
A fim de equilibrar a questão tentou-se a emigração, mas a falta de contingente humano levou à falta de mão-de-obra. Assim, partiu-se para a solução através da força militar, o que foi malogrado diante da falta de homens à desempenhar a função e das necessidades de força de trabalho nas indústrias. A segunda guerra viria para demonstrar a nítida debilidade da força militar europeia.
“Por si só, os fatores demográficos são antes uma condição prévia do que uma causa do poder político, e o significado da mera quantidade é frequentemente discutido”. A industrialização permitiu um período de poder sobre as populações não industrializadas, mas a história demonstrou que a habilidade técnica não podia ser monopolizada e a Inglaterra foi responsável pela sua própria derrota, quando achava que isso não era uma possibilidade.
[CAP. 4, 5 e 6]
A primeira guerra mundial retirou a América de seu isolacionismo. Após o conflito a Europa poderia supor que o reequilíbrio mundial seria restaurado, mas os EUA e a Rússia já percebiam uma nova ordem, multilateral. Percebiam, porém, sob diferentes óticas. Para o autor, o sistema bipolar que emergia foi um sintoma do fim do século XIX, quando o imperialismo, em seu auge, dividiu o mundo em zonas de influência e monopólio comercial.
A industrialização modificou as cidades, de maneira bastante rápida. Isso refletiu em mudanças na cidade, na sociedade e na formação dos Estados. As estruturas políticas da época não estavam preparadas para lidar com as necessidades populacionais e desenvolve-se, a partir de então, um sistema cada vez mais intervencionista, em prol do interesse do cidadão. Isso levou ao declínio do modelo democrático representativo da antiga Europa e culminou no sufrágio, primeiro do homem e, por último, da mulher. Surgiu a democracia das massas.
O partido tomou grande importância.
O imperialismo propiciou as bases para o êxito dos movimentos independentistas. A dominação possibilitou o nascimento do sentimento xenofóbico. A desestruturação das bases sociais, econômicas e políticas das colônias possibilitou o desenvolvimento de novos interesses que, se aproveitando do enriquecimento da indústria serviria para organizar o movimento de independência.
 As duas grandes guerras contribuíram para tornar a Ásia e África em pólos produtores de matéria prima, o que gerou o desenvolvimento social dessas comunidades. As novas classes sociais que surgiam eram ricas o suficiente para financiar os movimentos de independência.
“Foi esse amálgama, fruto da ocidentalização, de elementos oriundos de distintos grupos e classes sociais, que levou à formação de novas elites, unidas, apesar de suas origens díspares, pela determinação de sacudir o jugo estrangeiro”.
“O nascimento do nacionalismo pode ser encarado, assim, não só como uma reação contra o domínio ocidental, mas também como um passo inicial na transformação do modo tradicional de vida, não mais de acordo com as modernas condições”.
Os movimentos de independência na África e Ásia partiram de modelos europeus, americanos e até mesmo de modelos russos. Os partidos vitoriosos foram os que conseguiram mobilizar as massas dentro de um modelo político ocidental para criar uma nova sociedade, reformulada, atendendo às aspirações sociais da população.
[CAP. 7]
O marxismo-leninista, bolchevismo, foi responsável por reinstalar o espírito revolucionário. O movimento era universal, não questionava a relação de um povo mas, sim, a relação das classes oprimidas.
“Como outros grandes movimentos históricos, o bolchevismo deveu seu êxito não só a seu próprio poder e ao entusiasmo que suscitou entre seus discípulos, mas também ao desmoronamento interno da ordem contra a qual se dirigia”.
Lenin pregava um marxismo mundial e a crise pós Primeira guerra foi o momento propício, já visualizado por Marx, para a revolução. O bolchevismo defendia o desenvolvimento dos países “atrasados” sem ser necessário passar pelos sacrifícios das fases impostas pelo capitalismo. Ele não dividia o mundo por nacionalidade mas por classes. Suas promessas foram facilmente aceitas nos países menos desenvolvidos – apesar de outras políticas, como o fascismo, estarem em curso de desenvolvimento.
Se, primeiramente, o Marxismo-leninista era um movimento mundial seu sucessor Stalin modificou os rumos dessa política e se afastou do comunismo, priorizando a política da União Soviética e abandonando o classicismo que vigorava sobre o nacionalismo.
“A reação ao impacto soviético divide-se, pois, em três fases bem definidas. A primeira, de 1918 a 1929, foi quase totalmente negativa, bastante parecida à reação de Metternich ante a Revolução Francesa. Tentou conter o bolchevismo isolando-o; seu instrumento foi a política externa e, no todo, funcionou bem até 1929, para satisfação dos estadistas ocidentais. A segunda fase, de 1929 a 1941, foi também uma reação de medo, mas de conteúdo mais positivo. Suas expressões características foram o fascismo e o nacional-socialismo, cujo pressuposto básico, fomentado em ambos, e em grande escala, pela depressão de 1929, era a incapacidade do capitalismo liberal para reunir os elementos da sociedade capitalista – sobretudo, a pequena burguesia – que se sentiam mais diretamente ameaçados. O fervor moral que tanto Mussolini como Hitler procuraram inspirar entre seus adeptos foi instigado como antídoto ao fervor do bolchevismo e muitos dos métodos bolchevistas foram invocados na tentativa para o gerar [...] a terceira fase só atingiu pleno desenvolvimento depois da guerra de 1941-45. O Estado de bem estar social”.
“O comunismo teve grande influência na Ásia onde a ditadura era uma das poucas formas de vencer a plutocracia e diminuir as disparidades [...]. Uma grande influência desse modelo que não visava o lucro e sim o planejamento social foi a mudança nas ideias capitalistas, que passaram a mesclar cuidados sociais em suas bases, distanciando-se do liberalismo econômico”.
[CAP. 8] – A arte
O último capítulo trata da mudança no panorama artístico e cultura da nova sociedade que se desenhava. A arte rompe com antigas formas e busca criar algo para uma nova sociedade, a sociedade de classe, operária, que agora se alfabetiza mas não se interessa pela antiga arte. Se primeiramente a arte foi influenciada pelo Ocidente, posteriormente ela se volta para temas internos, para uma linguagem mais popular e visa participar ativamente da reconstrução social.

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