sábado, 10 de dezembro de 2016

Por que eu defendo o aborto?

Por que eu defendo o aborto?
Há algum tempo decidi me libertar de todo o enigmático conceito religioso. Não posso me libertar em definitivo porque uma criação religiosa deixa marcas inapagáveis, amarras invisíveis e um fundinho de fé inabalável. No entanto, posso me agarrar à minha racionalidade e entender que o fato de eu ter sido criada dentro de uma crença religiosa não a torna uma verdade absoluta. A beleza do mundo é a diversidade, em todas as suas manifestações.
Eu posso acreditar no direito à vida, no karma, na resiliência ou qualquer outra coisa, mas eu não posso querer que todas as pessoas sejam obrigadas pelo Estado a agir conforme meu doutrinamento. 
Como mulher, independentemente de qualquer doutrina, eu tenho obrigação de defender o estado laico, a defesa integral dos direitos humanos. Se hoje eu tenho liberdade sexual, direito ao planejamento familiar, direito de trabalhar, direito de estudar, tudo isso é fruto de uma mulher que, lá atras, foi contra doutrinas e pré conceitos e defendeu uma mudança no entendimento do papel da mulher na sociedade. 
Em alguns países as mulheres são punidas pelo aborto espontâneo, em alguns países o aborto em casos de violência sexual é proibido - parece pré história! Assim como diminuir a maioridade penal não vai diminuir a violência, criminalizar o aborto não dificulta sua ocorrência, apenas aumenta os casos de morte. O aborto não precisa ser crime, não deve ser crime, o que a sociedade precisa é educação, qualidade de vida e desenvolvimento. Não adianta tapar o sol com a peneira, fingir que o problema se resolve com uma norma punitiva. É preciso sair da nossa zona de conforto e encarar o problema com racionalidade. 
Eu tive a sorte de ter uma família estruturada, recebi educação moral e intelectual, tenho acesso a um sistema de saúde privado, posso adquirir medicamentos, tenho um trabalho que paga um salário digno. Mas eu sou a minoria da população. Eu não preciso fazer um aborto. Mas eu não tenho o direito de decidir por quem não teve as mesmas oportunidades que eu, ou que não compartilha das mesmas ideologias que eu.

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